domingo, 8 de maio de 2011

Doença.

Faz tempo que eu não escrevo e, por isso, nem sei mesmo por onde começar. Gostaria de dizer que não venho me reconhecendo nesses novos tempos e que o tempo é algo que, cada vez mais, compreendo menos. Não me lembro onde larguei minhas calças, onde fiz minhas últimas apotas e, muitos menos, quantos dentes tem hoje essa dentadura que mastigo. Não me lembro de meu sobrenome e de minha cor predileta. Não me lembro do que que me prometi amar, ser feliz e viver. Não me lembro dos livros que li, dos que estudei e admirei. Não me lembro de nada antes dessa coceira que toma e atenção e o pensamento. São pequnas pintas vermelhas, tímidas. Quando tocadas e atiçadas elas crescem em fração de segundos e se transformam em estrias, caminhos em relevo. Sinto-me um monstro, um samurai esquecido, uma ameba em mutação genétca. Sinto-me, acima de tudo, um idiota, um problemático, um intelecutual de merda que não sabe lidar com os seus próprios problemas de pele e, consequentemente, com outras peles.

Eu não me lembro mais do seu cheiro e tudo o que digo hoje em relação a você é invenção. É mintira. Faz parte do jogo que criei para mim mesmo, para me salvar desse escuro turvo que me cerca. Não me lembro do meu batizado, da roupa que usava quando fiz minha primeira endoscopia e nem do sabor da lays de vinagre. Só sei me coçar e quando me coço me tenho e meu dou prazer. Sou uma grande placa alérgia que ronda pelo apartamento. Eu pedi um subway, mas a comida não me fez bem e há três horas eu arroto cebola.Já tomei um sonrisal. Quando coça a cabeça é a pior parte, tenho certeza.

Eu não lembro o porque de não me apaixonar por você. Eu não lembro quando meu corpo decidiu que acha o seu bobo e, por isso, não se satisfaz. Eu não lembro uma porrada de coisas que eu queria lhe dizer e hoje quase todas elas parecem não fazer mais sentido. Posso fazer uma rima? Eu não lembro da sua dor, do seu gemido. Fiz. Eu não lembro da cor de seus olhos, do peso de meus cabelos quando grandes e do sol entrando pela janela sem cortina. Eu não lembro de calçar tênis aos domingos e nem de fumar tantos cigarros. Quando coça é inevitável e eu preciso me concentrar ao máximo em outra coisa para não me arranhar. Inteirinho.

Eu nem queria escrever, mas quando começo gosto e torço para que não termine. Eu não me lembro nem de como me senti quando lhe vi na rua com outro homem. Risos. Eu não me lembro do nosso de nossos filhos, gatos e papagaios. Você ainda gostaria de ter um tucano? Eu sim. Se achar a idéia boba, por favor, tente me informar. Eu gostaria de saber sua nova opinião sobre o sistema e o sobre o aumento brusco nas passagens de ônibus e no picolé de limão. A coceira é como uma frebe localizada, um calor enlatado em algum lugar do corpo. Qualquer lugar. Não tem roteiro e, por isso, não se pode prever sua origem e término.

eu só queria que não coçasse tanto.

Nenhum comentário: