sábado, 24 de abril de 2010

4 imagens para o saco. Arrebatamento.











Trabalhois de Antony Polizzi e Denis Darzacq.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Tentativa de dar nome ao aperto:

eu queria saber escrever sobre o que eu sinto.
meu coração está apertado.
são montanhas.

sinto falta de meus velhos amigos
eles estão muito ocupados.
assim como eu.

eu queria saber definir o que é isso.
minha vida anda solta.
tem um monte de vagão vazio.

sinto falta de permanecer em um só lugar.
eu queria dançar.
meu vestido rasgou na cachoeira.

nada mais faz sentido.
só o em pensar em ti.
e em tu, também.
é nessa coisa louca que nos envolve,
a cada encontro,
a cada conversa,
a cada bebida.
são seus olhos de tigre,
miha voz de gralha
e o teatro a nos abrigar.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Breve constatação:

Todos os problemas do mundo estão ligados ao afeto. de alguma forma.

Angra dos Reis

as pessoas são filhas de quem elas deveriam ser.
como disse, para Xambudo, um dia: para cada filho um pai.
como disse, muitas vezes, a mim mesmo, tentando compreender o sentido de minha família.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Para o saco:

- passava dias e noites olhando-se no espelho. perto, bem perto. analisava. com o terremoto machucou a face e perdeu os olhos.

- gostava de brincar de índio. capitão. pirata. cabana. ilha desconhecida. tesouros. gostava de inventar personagens, sobrepor as roupas do armário do pai. dividia os cômodos da casa, traçava caminhos, mapas. os parentes, aliados. os vizinhos, inimigos. foi em um dia desses de brincadeiras e sonho que, abrindo a última gaveta do pai, disparou o brinquedo que findou todas as suas batalhas fantásticas.

- ela não se lembra de seu nome. de quantos anos tem. não se lembra da cor de suas alegrias e nem de seu sexo. ela não se lembra de comer, de beber água e tem hora marcada para ir ao banheiro. comprometimento da família. ela não se lembra de vestir-se, da boa-educação e nem dos bons modos. seu olhar é perdido, vaga no espaço da casa. ela não se lembra de nada. a única coisa que ainda a motiva é o barulho que o telefone faz quando toca. todas as ligações são para ela.

- limpava meticulosamente cada canto, cada beirada de cada móvel da casa. havia nascido ali, dentro dela e nela ensaiado suas primeiras dores e alegrias. gostaria que todos os meses fossem Natal. a árvore montada durante o ano todo, esperando o pai abrir a porta com uma sacola cheia de presentes. ele não vem menina, dizem os irmãos. morreu. lembrou-se de quando era pequena.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

Pira.

como é ver vocês sempre e não poder dormir junto?
como é cuidar de vocês, me preocupar e não saber se fazem o mesmo por mim?
como é estar apaixonado e não saber se é mesmo paixão o que sinto?
como é pensar em abandonar tudo para viver com vocês em uma cabana?
como é se render ao que é novo e não pensar mais nos antigos?
como é ver tanta graça e beleza em vocês depois de anos de convivência?
como é querer ter, colocar na estante, beijar na boca e não se arrepender?
como é pensar que a cerveja só é completa se bebida na cia de vocês?
como é só querer estréia com vocês bagunçando os camarins?
como é só querer lembranças com vocês nas fotos?
como é que se reciclam esses sentimentos?
como é que se dança esse novo amor?
como é que se explica o amor?
como é que vive o amor?
como é que se faz amor?

eu queria só um balão.
com todo mundo dentro.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dever de casa.

O meu teatro ideal seria bem grande. O chão, independente da peça que estivéssemos ensaiando, ia estar sempre repleto de figurinos. Muito figurino e as pessoas iam poder vestí-los na hora que quisessem. O meu teatro ideal ia ter muitos quartos para que as pessoas pudessem dormir neles, morar neles também se precisassem. O meu teatro ideal ia ser repleto de fotos de antigos espetáculos e pessoas amigas, queridas e amadas. No meu teatro ideal ia ter um banheiro bem limpinho. O meu teatro ideal ia ter um cachorro. O meu teatro ideal ia ter aquelas luzinhas para que as velhinhas não tropeçassem depois que as luzes fossem apagadas. O meu teatro ideal ia ter um café, um espaço onde as pessoas pudessem se encontrar antes e depois dos ensaios para conversar ou só comer mesmo. No meu teatro ideal os atores iam chegar sempre na hora. O meu teatro ideal ia ser embaixo da minha casa e todas as peças iam atrasar, no mínimo, duas horas. O meu teatro ideal ia ser dentro de um floresta, com muitas árvores. Não. O meu teatro ideal ia ter só uma única ávore. O meu teatro ideal, talvez, nem tenha o nome de teatro ideal. No meu teatro ideal a gente ia ter muita maquiagem e também iríamos poder montar a peça que desse na telha. No meu teatro ideal...

O que não tem me deixado dormir, renovando o meu olhar a cada momento, movimento.

- Como se dança?
- Comofás para se elaborar uma coreografia?
- A dança parte da ação física?
- Quem enche uma garrafa de água dança?
- E quem enche 100 garrafas de água - uma atrás da outra... Dança?
- A repetição de um movimento sublinha o que foi dito ou diz de outra maneira?
- A variação rítmica do movimento envolve algum subtexto?
- O tempo do silêncio também é dança?
- Um movimento substitui uma palavra? Uma frase?
- Quem dança, mesmo fisicamente acompanhado, sempre dança sozinho?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Tentando dar sentido ao saco!

Situações que passamos em CASA:

-dançou dez vezes a mesma música e só na última tirou alguém para dançar.

- explicou todas as doenças que já teve, das mais sérias a mais breve. no final, disse a todos que morreria da memória.

- depois da morte da mãe passou a pentear os cabelos dez vezes ao dia no mesmo tempo-ritmo. quando os seus acabaram passou a comprar uma boneca por dia para poder repetir a ação.

- arrumava as gavetas sempre da mesma forma. depois que o telefone tocou resolveu começar a arrumar os seus sentimentos.

- gostava de se tacar no chão. muitas vezes para sentir a dor que este movimento era capaz de provocar. quando ganhou de natal um colchão, se tacou pela janela.

Na tempestade Dória.

Brasileira, essa chuva é toda sua?

se for, lava a gente, por favor.
se for, sorri pra mim.
se for, me manda um sinal de que está tudo bem.
se for, nêga vc continua a mesma.
fazendo estardalhaço e espetáculo.

parabéns.
=*

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ainda sobre o mesmo saco:

- no final ela tira os óculos e chora um rio de lágrimas. expõe todo o suor que conteve, quer dizer, que não lhe possibilitaram suar. no final ela se mostra viva. dentro da memória dele? chorava enquanto ele dizia? chorava enquanto ele a abraçava e ela não se movia? sentia.

- são janelas. muitas janelas de uma só CASA. o problema da CASA. "Era uma doença da Casa" - Bracher. Todos na casa lidando com finitudes diárias. pequenos e grandes fins que geram recomeços. o ato de ser arrebatado todos os dias.

- um espetáculo de "ous".

- ruínas. fragmentos. grandes discursos. pequenos objetos. maquinário cênico.

- momentos de cumplicidade. a CASA se desdobrando em espaços sagrados. o arrebatamento dos cantos. o movimento das portas. as beiradas da cama.

- o café acabou. é um fim. o café acabou e ela dança mesmo sem o pó.

anotações.
uma luz.
por favor, um carinho.

domingo, 4 de abril de 2010

Olha isso:

eu: me diz uma coisa?
Gabriel: digo
eu: oq vc acha sobre a finitude?
Gabriel: uma benção

Sabe qual é seu problema?

Ele disse que eu sou muito ALTOastral.

Moço, a minha tristeza é pequena. Ela corre pelas beiradas.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Irmãos do mesmo saco.

Quando penso no arrebatamento não gosto de pensar nas teorias religiosas que ele está inserido. Penso em sua consequência, no que ficou depois dele. No que ficou "depois que Ana me deixou". Eu quero falar sobre ele ou ela que agonizam, agora, a partidade alguém ou de algo. Mas o assunto também não é despedida. É muito maior, entende? Não tem desejos de sucesso, nem comunicação por mídias alternativas. Não tem como saber se depois o outro, o que partiu, esta bem nesse lugar obscuro que ele agora habita. O problema não é o ato da partida, mas sim o que ela ocasiona em quem fica. Em quem sofre a dor deste fim. Sim. A palavra em questão é FINITUDE. Se, tudo acaba mesmo um dia, como classificamos o espaço da memória, dos resíduos que ficam a latejar no corpo e na paisagem? Como classificamos o eterno relembrar, remoendo todo e qualquer tipo de questão que, hoje, já não faz o menor sentido. Quando penso no Arrebatamento, quero saber qual é o sentimento de ser arrebatado. Penso na visualidade, no sumiço, nas soluções cênicas para tal. Quando penso no Arrebatamento, penso em como dar continuidade as coisas sem aquela que me parecia principal. Penso em cores, muito movimento, seis atuantes e três histórias. "Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas para te dizer...". Mas o tempo também é finito e, por isso, não nos deixa dizer por completo o que desejamos, queremos e sentimos. Quando penso no Arrebatamento penso naquelas pessoas que morreram, mas foram eternizadas por seus acompanhantes. A casa ainda é de quem partiu. As escolhas ainda são divididas, de algum modo, com esse que se foi. Penso também na bailarina a ensaiar sua partitura, tentado chegar na perfeição e só atingí-la no momento de seu próprio Arrebatamento. Sua glória e sua decepção. Juntas. Penso também no mote: "o que te dói e o que te salva?". Penso na recosntrução de histórias a partir de fragmentos em discurso elaborado por diferentes pessoas que, consequentemente, apresentam diferentes visões sobre o mesmo tema, assunto, cor ou objeto. Penso na Bracher e em seu Antônio. Penso na "Sinuca de baixo d`água" que ainda nem terminei de ler. Mas também penso por isso. Penso na morte de Antônia relatada por Camilo, Polaco e Bernardo que não sabem lidar com a finitude, por exemplo, da vida. Mas também penso na criança que é arrebatada quando o tempo da mamadeira não se justifica mais. Depois que ele deixou o coelho cair na hora mais importante alguma coisa aconteceu. Alguém foi arrebatado nesse momento. A casa, as crianças e as estantes jamais serão as mesmas. Mas o que, de fato, foi arrebatado foi a relação que se criou em torno do coelho. As situações simples podem se transformar em situações limites de acordo com o valor e subjetividade que transferimos a elas? Não sei. Situações limites, o corpo esperando, agonizando e tudo partindo, indo pelos ares para nunca mais voltar. Ventania, tempestade, trovão. A natureza sendo arrebatada todo dia pelas ações do homem que ainda não consegue compreender as consequências de sua indiferença. Uma doença, um chocolate e até um abraço na hora errada. Tudo pode criar uma situação de arrebatamento. Só me resta saber como. COMO? como transformar em palavras e ação o que dentro de mim não se explica? o que dentro de mim se extende por todo o meu corpo. o que dentro de mim não lida bem com o fim. nem com o término de ciclos que eu gostaria que pudessem ser infinitos. O Arrebatamento - a obrigatoriedade de saber dizer tchau. ou a constatação da perda. ou a razão pela qual você se foi. ou a vida pode continuar. ou eu nunca mais voltarei a Londres. ou vou manter você vivo na nossa cama. ou o que virá depois. ou nada mais faz sentido depois que você se foi. ou o medo de abrir a porta. ou a dificuldade dançar sozinho. ou a janela aberta para você pular. ou mil pessoas partindo. ou o céu sem limites. ou a dor que agora sinto. ou a brevidade da vida. ou o vestido que nunca usei. ou NO DIA DO ARREBATAMENTO ESTE CORPO FICARÁ DESGOVERNADO