terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eu calei porque...

Eu calei porque exatamente naquele momento a porta se abriu. Eu calei porque com a porta aberta nada mais fez sentido. [conseguimos manter a porta fechada durante anos]. Então, lhe pregunto: todo o nosso esforço foi em vão? Eu calei porque com a porta aberta vejo que fomos obrigados a esmagar nossa relação, pois nos preocupamos demais com coisas pequenas. Eu calei porque ao ver a porta aberta percebi que nunca soubemos dar valor ao todo. Eu calei porque percebi que todas as nossas brigas sempre foram pequenas perto do "nosso amor". Mas só percebi isso agora e, agora, o agora já é tarde demais. Eu calei porque com a porta aberta não tenho mais como lhe prender dentro de casa. Com a porta aberta você está livre. Vai! Corra pelas ruas, grite, denuncie o cativeiro que fizemos de nossa própria "moradia". Vá aos jornais, exponha nossa história, não se esqueça dos detalhes: das surras de vassoura, dos copos quebrados, das fotos rasgadas, dos livros no chão e do cachorro latindo. Exponha nossa intimidade: fale de quando lhe gozei na cara e de quando me arranhou o corpo inteiro. Ah! Fale também das vezes em que andamos vendados, das velas que derreteu em meu peito. Fale de nossos vícios. Fale dos cigarros que apagamos em nossas mãos por preguiça de alcançar o cinzeiro. Fale de nosso corpo. Desenhe, principalmente o meu, por inteiro. Fale também do nosso sexo sujo, mas dele fale com amor e também de forma doce e irônica, pois você é PH em descrever as coisas desse modo. Conte a todos da redação sobre o dia de aniversário do nosso casamento. Conte também sobre como passamos a ter este animal de estimação que já citei nesta breve carta. Conte como escolhemos as tintas para pintar a CASA e também como fizemos para pintá-la. Você, com certeza, sabe do que eu estou falando. Quer dizer, não sei. Depois que a porta se abriu e eu me calei, acho que não posso dizer que lhe conheço. Fizemos um acordo, tínhamos um trato e você furou! Eu calei também por isso. Quando ouvi a porta abrindo, saquei que tudo aquilo que você havia me dito era, na verdade, a imagem que você criou para você. É uma boa imagem, hein? Confesso que caí direitinho, comprei tudo e nem se quer pedi nota fiscal. Ou seja, me calei por decepção. Eu calei porque eu odeio esse cachorro, mas não sou também capaz de botá-lo na rua ou dá-lo para alguém. Eu calei por isso, porra. Porque a porta abriu, você foi, mas a porra das suas coisas ficaram. E toda vez que eu tropeço nelas eu sou obrigado a, mais uma vez, calar. Eu não posso nem convidar outras mulheres para vir a CASA... A porra da sua alma, sei lá se isso existe, ainda mora aqui. Outro dia, eu calei quando no banheiro dei de cara com a sua calcinha pendurada na torneira do chuveiro. Não deve estar te fazendo falta, né? LIXO. Eu calei porque tomei a decisão de jogar tudo o que é seu e também tudo o que um dia chamamos de nosso no lixo. Eu calei, mas, na verdade, essa é a última vez que lhe escrevo e espero, do fundo do meu coração, que compreenda e não insista em manter contato. Eu calei e, por isso, resolvi escrever. Alguns informes: vou vender a CASA e tudo que tem dentro dela vai junto. Vou comprar uma CASA nova, só minha. Vou trocar de cidade, telefone, nome e sexo. Vou tomar 444 banhos para ver se consigo limpar a sujeira sua que ainda resta em mim. Vou também pintar o cabelo, fazer as unhas, comprar sapatos novos e também um novo par de óculos. Desde que você passou pela porta eu não vejo mais nada, pois os meus óculos você que havia comprado. LIXO. Vou escutar novos artistas, mudar de estilo. Vou levar o cachorro, mas agora ele tem outro nome e não me venha com essa história de "nosso filho" para cima de mim. O cão agora chama-se Resto e é a única lembrança que vou guardar de você. Eu calei porque também não tive coragem de ir lá fora, te buscar pelas mãos e pedir mais uma chance pra gente. Sou um covarde. Eu calei porque a porta abriu e você saiu correndo, sem olhar para trás.

O amor me violenta.


Mais uma vez, obrigado.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eu gritei porque.

Eu gritei porque falar não foi suficiente. Porque foi, e ainda é preciso, saber que você cresceu e de coelho se transformou em girafa. Eu gritei porque nessa troca, sem aviso prévio, você passou a ocupar um espaço enorme dentro de mim. Agora você está aqui dentro e eu não posso mais reclamar do vazio. Agora você está aqui dentro e as coisas estão parecendo completas. Mas não. Eu gritei para tentar trazer você comigo, na verdade. Eu gritei, pois juntos invertemos a ordem normal das coisas. Ou seja, agora que você está aqui dentro já não é mais preciso parir. é que você nasceu antes da concepção. nasceu assim, no susto, sabe? Eu gritei porque quando vi você transbordar por meus pequeninos furos, nada pude fazer ou pensar. Eu gritei para externar a dor que agora sinto. Eu gritei porque falar não foi suficiente. Porque agora estou pesada, gerando um filho que nunca mais vou tocar, ninar beijar, amar fisicamente. Eu gritei na hora de ir embora, descendo daquele ônibus gelado em buscado do calor do seu abraço. Eu gritei por mais esse laço. E, embora acredite em frutos verdes, estou sem graça de comer-lhe o último pedaço. Eu gritei porque estou grávida de algo que já esta na escola. de algo que já pensa, lê, formula questões e, mais para frente, vai também se questionar se do meio se vai para frente ou para trás. Eu gritei porque estou grávida do jardim zoológico e dentro de mim não há espaço para tantas jaulas e gaiolas. Mas você está aqui. Tomando meu ar, minha comida, meu suco gástrico. Ás vezes, em ruas muito movimentadas, você chuta. Eu sei, já compreendes o perigo, separando o seguro do ameaçador. Eu gritei porque agora que estou gorda de você vou precisar entrar em regime de dieta. Eu gritei porque não quero emagrecer, mas será preciso. Pois tomei a decisão de lembrá-lo em doses pequenas. Não posso abortar mais uma história de amor.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A coisa do carro.

"a coisa do carro, eu me lembro. vc estava mto cansado, com a cabeça de lado. daí eu disse q se fossemos carros, o seu ponteiro da gasolina estaria na reserva. e vc perguntou: e o seu? o meu estaria quase chegando na reserva, pq abasteci de manhã dormindo até as 10."

embora abastecido, meus ponteiros ainda estão na reserva. por saudade.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Preciso escrever, preciso do meu computador. Eu disse.

A pouco tempo atrás cheguei a classificar o enorme esforço feito para ir como "muito barulho por nada". Hoje, tendo acabado de sentir o chão firme de minha terra, fui obrigado a mudar minha opinião. Talvez, não pelo acontecimento como um todo. Mas pelas pessoas, em especial, por você. Mais uma vez estou sendo obrigado a rever minha vida, tirando dela as histórias que tenho para contar. que gosto de contar. Na volta, conclui que você será mais uma delas. Dessas boas lembranças, que a gente gosta de ter. Desde pequeno, meu lugar predileto é o aeroporto. Até hoje, esse espaço me emociona, trazendo sensações que pouco sei ou procuro explicar. São viagens, chegadas, partidas, encontros, despedidas, muitos beijos, abraços, laços... é o poder de ir e vir que move o ser humano moderno. dono de seus caminhos e decisões. pois bem, eu fui, ou melhor, fomos. A Dóris disse que, na verdade, todos foram só para eu encontrar você. Ela acredita em destino, caminho, essas coisas que dou pouco valor. Talvez, eu precise também rever esse meu posicionamento. Me lembro agora que enquanto eu tomava banho e você me fazia compania, perguntou se eu acredito em Deus? Acredito, eu respondi. E são por essas situações que passo a acreditar mais. Por esses encontros que são como presentes, surpresas boas, antídotos poderosos para o coração. Eu voltei, estou aqui, em casa: seguro, cansado, leve e pesado, feliz e saudoso. Já tenho saudade de ti. Uma vez, disse a alguém que minha vida é feita de saudade. Acho que tenho razão. Passamos tão pouco tempo um ao lado do outro que poderíamos julgar todo o ocorrido como loucura. Mas não. Se estivéssemos loucos, teríamos sido extremistas, como você mesmo disse, ou então desmedidos e por ai vai. Mas não. Soubemos respeitar o tempo e, o mais importante de tudo, nos respeitar também. Eu voltei. e agora sou como uma bolha prestes a explodir de alegreia e prazer. Mal sabe, mas foi você a pessoa que me devolveu a crença nas coisas que sempre busquei acrediar. no amor, no romance, no encontro de almas e também na química, como você disse. Não eu não me importo com a sua idade, pois você não ter vergonha dela. Na verdade, foi a partir dela e da lovely que começamos, de fato, a travar o início de uma longa conversa. Digo longa, pois meu corpo, embora sem contato, ainda conversa com o seu. é que foi tão doce que não sei explicar nem traduzir em palavras. A minha barriga é feia, eu disse, e você nem se importou pois o grande barato do momento era saber se eu sentia cócegas ou não. sim eu sinto. O grande barato foi e ainda é ver como você consegue ser enorme em uma cidade tão pequena. Ver como sua beleza se destaca. Ver sua ousadia, seus óculos para não falar dos seus desenhos. Ah, os seus desenhos. Trouxe um cadinho deles comigo, rabiscados em uma camiseta que deixou de ser comum e jamais ficará velha. Agora ela é uma daquelas camisetas que a gente guarda para sempre, sabe? Aquele tipo de roupa que fica com o cheiro do perfume da pessoa amada. Através dos seus desenhos, lembro-me de seu rosto, olhos, beijo e nariz. Lembro-me também de sua coragem em ter dividido momentos tão importantes comigo. Lembro-me de você, ali no restaurante, com as mãos grudadas nas minhas, não se importando mais com os olhares alheios. Você não me deu nenhum beijo hoje, você disse. eu não soube o que dizer, pois todo o tempo que passei sem lhe beijar o fiz em respeito a você. Resolvemos o engano. Naquela sala de aula, quente, no colchão tropicalista que sim, tens razão, daria um belíssimo casaco de moleton com zíper vermelho. Se um dia você o fizer, saiba que será meu mais esta fabulosa peça odente. Como serão minhas também as peças que ainda vou encomendar. Agora que já tenho uma exclusiva, posso ter todas. Preciso dizer também que eu nem sabia que você adora jujuba, mas saindo do banheiro, os pacotinhos gritaram meu nome e eu, sem entender, os levei comigo. Bingo. Era jujuba o que você queria para aliviar aquela premiação para lá de tensa. é que ficou colado em mim o pedaço daquela parede, daquele cantinho, da grama daquele jardim. "Núúúúú", como você mesmo diria, expressando-se com entusiamo. É que ficaram em minha boca os sorrisos que demos, as alegrias que tivemos o encontro marcado, que sem marcar ou pensar, realizamos. é que ficou na minha cabeça o quão especial foi tudo isso. o quão maduro e exato. é que saí desesperado do ônibus, correndo pelo prédio da universidade a sua procura. para lhe dar o último beijo, abraço, para olhar seus olhos, talvez, pela última vez. é que sem todas aquelas fotos eu não poderia ir embora. nós dois ali, mais uma vez, naquela sala e eu falando sobre abstrações do momento, levando as situações para a filosofia. você poderia ter achado um saco. Mas não. Disse que quando eu falo a imagem que vem a sua cabeça é a de vários livros se abrindo e fazendo aquele barulho do rápido passar entre páginas. pequenino, eu não sou tão inteligente assim. Eu queria ter dito, mas não consegui. Pois a imagem que fazia de mim naquele momento foi umas das mais belas que já esboçaram. Sabe o que eu gosto mais em você? É que você quer ver todo mundo crescer, você também disse. Sim isso é verdade, procuro ajudar as pessoas sempre que posso. e procuro também torcer muito pelas que gosto. Mas nesses momentos, eu só tinha olhos para você e todo este entusiasmo que viu em mim, foi você quem gerou. fui conhecer patos e me deparei com uma girafa, meu animal predileto. bonito, grande, do pescoço e corpo volumosos. animal charmoso, presente e forte. mais um para fazer compania a lovely, ao menino coelho e tantos outros bichos que por ai estão a andar, amar, conhecer e viver. é que realmente vivemos esses três dias de uma forma que jamais esquecerei. Agora entendo a força que não sei de onde tirei para me fazer presente nesta viagem, neste festival, neste eventopeçacoração. ver você na primeira fileira do teatro foi fabuloso. ver você me esperando lá fora. nos ver caminhando, cantando... um brinde, eu sugeri: a nós. é que ainda preciso brindar mais. é que ainda preciso respirar, guardar você direitinho. já colei na agenda o desejo de feliz dia das crianças. já guardei a blusa que ainda está com o peso de suas mãos. já revi as fotos e quero ver as outras. já contei a alguns e quero dizer mais. tudo que se vive dessa forma é preciso ser narrado nos mínimos detalhes, que foram muitos. em breve, lhe mando a foto que pediu. junto com ela, minha saudade e carinho.

"Quando a lua apareceu
Ninguém sonhava mais do que eu
Já era tarde
Mas a noite é uma criança distraída
Depois que eu envelhecer
Ninguém precisa mais me dizer
Como é estranho ser humano
Nessas horas de partida..."