segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Eu gritei porque.
Eu gritei porque falar não foi suficiente. Porque foi, e ainda é preciso, saber que você cresceu e de coelho se transformou em girafa. Eu gritei porque nessa troca, sem aviso prévio, você passou a ocupar um espaço enorme dentro de mim. Agora você está aqui dentro e eu não posso mais reclamar do vazio. Agora você está aqui dentro e as coisas estão parecendo completas. Mas não. Eu gritei para tentar trazer você comigo, na verdade. Eu gritei, pois juntos invertemos a ordem normal das coisas. Ou seja, agora que você está aqui dentro já não é mais preciso parir. é que você nasceu antes da concepção. nasceu assim, no susto, sabe? Eu gritei porque quando vi você transbordar por meus pequeninos furos, nada pude fazer ou pensar. Eu gritei para externar a dor que agora sinto. Eu gritei porque falar não foi suficiente. Porque agora estou pesada, gerando um filho que nunca mais vou tocar, ninar beijar, amar fisicamente. Eu gritei na hora de ir embora, descendo daquele ônibus gelado em buscado do calor do seu abraço. Eu gritei por mais esse laço. E, embora acredite em frutos verdes, estou sem graça de comer-lhe o último pedaço. Eu gritei porque estou grávida de algo que já esta na escola. de algo que já pensa, lê, formula questões e, mais para frente, vai também se questionar se do meio se vai para frente ou para trás. Eu gritei porque estou grávida do jardim zoológico e dentro de mim não há espaço para tantas jaulas e gaiolas. Mas você está aqui. Tomando meu ar, minha comida, meu suco gástrico. Ás vezes, em ruas muito movimentadas, você chuta. Eu sei, já compreendes o perigo, separando o seguro do ameaçador. Eu gritei porque agora que estou gorda de você vou precisar entrar em regime de dieta. Eu gritei porque não quero emagrecer, mas será preciso. Pois tomei a decisão de lembrá-lo em doses pequenas. Não posso abortar mais uma história de amor.
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