quinta-feira, 6 de maio de 2010

Apontamentos sobre o não lugar:

O não lugar é o meio, o entre, o encontro de linhas múltiplas que seguem para múltiplos caminhos. É a compreensão física do conceito de rizoma. Anular-se não é o caminho. Na verdade, é preciso encontrar o espaço do estar que já é, por si só, um não lugar. Ou seja, encontrar o espaço da abertura cíclica receptiva à afetação total. O não lugar não é estado, mas presença. Presente para poder se afetar de forma positiva ou negativa. A afetação pode tanto estar banhada de mistério como de luz, por exemplo. Possíveis ilustrações para o não lugar, de acordo com a mini defesa aqui elaborada, assemelhan-se a imagens de teias de aranha, mapas de linhas de metrô ou até mesmo ao processo de crescimento das bananeiras. O não lugar é o ponto de partida que não possui origem nem destino previamente definidos. Portanto, pode o não lugar ser também espaço para o exercício das propostas intuitivas, da reação direta a uma ação que não foi pensanda para gerar tal consequência. O não lugar é o ponto onde nossas trajetórias cotidianas se encontram sem nos darmos conta. É o esbarrão causado pelo pouso do pombo, que derrubou o sorvete da criança, que fechou o sinal, que esqueceu as chaves em casa, que pegou o ônibus errado, que sobrou dinheiro, manifestando dúvida. É a guimba de cigarro que não foi apagada, guirlanda de Natal pendurada, sete velhas sentadas enquanto, no Chile, tudo se movia. O não lugar é o cruzar de nossas linhas, todos os abraços fora de hora, todos os embaraços, amassos e gaiolas. O não lugar é um palpite a qualquer momento, a força do tempo, o "meu corpo atravessado". O não lugar é a sala de ensaio, a tentiva seguida da falha, o suor fruto da persistência que almeja antingir a suspensão através da prontidão. O não lugar é o lugar onde as identidades se liquefazem, seu nome já não lhe é próprio e pouco me importa a sua idade. Sua altura é arquitetura, seu jeito de andar - tempo/rítmo, seus gestos - imagens que procuro compreender pela repetição. Decupagem. Seu cansaço, superação. O não lugar é início do limite, o pico do caos, depois de lá onde "Judas perdeu as botas" e, por tudo isso, calmo. É também o hostórico de seu corpo, os movimentos que é capaz de realizar e perceber. O não lugar é o caminho que no meio tinha uma pedra, que no meio dela, tinha outra pedra, que no meio dela, uma outra pedra menor, que no meio dela, uma uma outra pedra menorzinha, que no meio dela, uma uma uma outra pedra nanica, que no meio dela,uma uma uma uma outra pedra quase invisível, que no meio dela, uma uma uma uma uma outra cisco de pedra, que no meio dela, uma uma uma uma uma uma outra possibilidade.

Um comentário:

Isadora Malta disse...

a melhor parte é poder pensar que nossas trajetórias cotidianas se cruzam. Vou lembrar mais do não lugar, quando estiver em movimento.