quarta-feira, 26 de maio de 2010
Tentativa de decifrar o saco:
Fica disso tudo o não saber. Fica uma vontade latente de contar certa trajetória que ainda não tem nome. Fica a imagem da CASA, seus habitantes. Fica uma pesquisa sobre espaço. O espaço onde essa CASA possa se fazer presente. Persiste o pensamento da casa como não lugar, como meio, como ponto de cruzamento de diferentes linhas. A CASA como um rizoma, sem início ou fim. Sem origem e destino. Só o miolo e o seu modo de estar, de se fazer presente.
Fica para a CASA e as evidências fragmentadas que carrega. Se for organizada por fora, é remexida, doída, caótica e poluída por dentro. Se for bagunçada por fora, por dentro é limpa, simples, plástica, exata. É a CASA, por si só, um paradoxo. Não exibe o que nela habita.
Seus personagens são lacunas, quinas, dobras, estantes e calendários. São pessoas comuns que, por determinado motivo, revelado ou não, foram obrigadas a reorganizar suas vidas. São seres humanos arrebatados, portadores de dores e prazeres pequenos. Pessoas que tentam se lembrar do que somos forçados a esquecer todos os dias.
Para esta CASA outro tempo. Outra pintura. Outro tom. Sistemas de convivência doméstica elaborados para lidar com o erro, com o acaso. Medidas de segurança, mentiras tidas como verdade. Loucurinhas, transtornos obsessivos dilatados em poesia, explodidos no espaço.
Quando um copo se quebra, ela repete ao marido que lhe ama. Quando a porta se abre, ele explica todas as doenças que já teve, das mais sérias a mais breve. No final, diz a todos que vai morrer da memória. Gostava de se tacar no chão. Muitas vezes para sentir a dor que este movimento era capaz de provocar. Quando foi Natal, ganhou de presente do pai um colchão e se tacou pela janela.
A CASA refém de seus habitantes e também o inverso desta afirmação. Não se sabe se o estado da CASA justifica quem nela mora ou se quem nela reside a justifica. A degradação interior e exterior. São histórias, pequenos fragmentos que não serão criados para gerar nos espectadores um estado passivo. Pelo contrário, a CASA é um convite. Ainda há vagas para diarista e acompanhante de idosos.
Fica para a CASA e as evidências fragmentadas que carrega. Se for organizada por fora, é remexida, doída, caótica e poluída por dentro. Se for bagunçada por fora, por dentro é limpa, simples, plástica, exata. É a CASA, por si só, um paradoxo. Não exibe o que nela habita.
Seus personagens são lacunas, quinas, dobras, estantes e calendários. São pessoas comuns que, por determinado motivo, revelado ou não, foram obrigadas a reorganizar suas vidas. São seres humanos arrebatados, portadores de dores e prazeres pequenos. Pessoas que tentam se lembrar do que somos forçados a esquecer todos os dias.
Para esta CASA outro tempo. Outra pintura. Outro tom. Sistemas de convivência doméstica elaborados para lidar com o erro, com o acaso. Medidas de segurança, mentiras tidas como verdade. Loucurinhas, transtornos obsessivos dilatados em poesia, explodidos no espaço.
Quando um copo se quebra, ela repete ao marido que lhe ama. Quando a porta se abre, ele explica todas as doenças que já teve, das mais sérias a mais breve. No final, diz a todos que vai morrer da memória. Gostava de se tacar no chão. Muitas vezes para sentir a dor que este movimento era capaz de provocar. Quando foi Natal, ganhou de presente do pai um colchão e se tacou pela janela.
A CASA refém de seus habitantes e também o inverso desta afirmação. Não se sabe se o estado da CASA justifica quem nela mora ou se quem nela reside a justifica. A degradação interior e exterior. São histórias, pequenos fragmentos que não serão criados para gerar nos espectadores um estado passivo. Pelo contrário, a CASA é um convite. Ainda há vagas para diarista e acompanhante de idosos.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
quarta-feira, 19 de maio de 2010
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Pouco para muito eu vou dizer...
é muita data para pouca agenda. muita preocupação para pouca cabeça. muito problema técnico para pouco humano. muito lixo para pouco luxo. muita liberdade para pouca marca. muita gente para pouco nome. muito coração para pouco espaço. muito amor para pouco laço. é muita vida para pouco tempo. muito processo para pouco ensaio. muita fala para pouca boca. muito corpo para pouca imagem. muito movimento para pouca roupa. muito glamour para pouco sonho. é muita gente para pouco abraço. muita luz para pouco mistério. muito mistério para pouca luz. é muito desenho para pouco não lugar. muito não lugar para pouca afetação. muita bainha para pouca finitude. é muito louco para pouco analista. muito amendoim para pouco saco. muita lata para pouco mundo. muita idéia para pouco esboço. é muita música para pouco par. muita droga para pouca hora. muito amigo para pouco encontro. muita lembrança para pouca dor. muita saudade para pouca vontade. é muita alegria para pouca foto. muita foto para pouca memória. muito porco para pouca lama. muito caos para pouco ar. muito engarrafamento para pouca leitura. muito cigarro para pouco cinzeiro. é muita gritaria para pouco silêncio. muito beijo para pouco aperto. muito desejo para pouco colo e muito colo para pouco começo. é muita coisa para pouca estante. muito colar para pouco pescoço. muita gola para pouca nunca. muito nariz para pouco olfato. é muita aranha para pouca teia. muita cor para pouco tecido. muito calor para pouca roupa. muita alergia para pouco remédio. muio fogão para pouca abertura. muita garrafa para pouca água. é muita água para pouco oceano. é muito bom para pouco ruim. muito frio para pouco casaco. muita casca para pouca gema. muita lágrima para pouco olho. muito telefone para pouco ouvido. muito zunido para pouco mosquito. muita criação para pouco caderno. muita pose para pouco desfile. muito flash para pouco jornal. muito café para pouca conversa. muito chiclete para pouco dentista. muita gastrite para pouco dinheiro. muito teatro para pouca pauta. muita falha para pouca tentiva. muito erro para pouco acerto. muito acento para pouca palavra. muita frase para pouco verbo. é muito verbo para pouca ação. muita reação para pouca causa. muita consequência para pouco armário. muita vassoura para pouca sujeira. muito sorriso para pouco dente. é muita gente. muita.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Eu tento dizer, mas uso maquiagem.
quando você me olha, como olhou hoje, eu não sei se olha para mim ou para os meus lábios. quando o meu corpo pede o seu, como hoje, eu não sei se posso beijá-lo ou se faço da minha vontade, mais uma vez, poesia. quando você me olha desta forma, seu olhar tropeça, passa por meus olhos, nariz e termina na boca. o seu rosto ensaias lágrimas que, penso eu, nunca vou lhe ver derramar. eu queria que você não precisasse ser tão forte, que fosse menos cobrado, que se levasse menos a sério. eu queria poder dizer o que sinto e que tudo o que sinto pode ser inventado. como já inventei muitas outras vezes. eu queria que este sentimento, posto declarado, não atrapalhasse nossos trabalhos, nem nossa amizade. quando você me olha, como olhou hoje, eu quero ir embora, guardar comigo meu coração aos pulos, surtando em corponome. daí eu não sei mais que história conto e prefiro a calmaria falsa do meu lar do que a alegria incompleta do bar. eu queria que você soubesse que quando tomo coragem, como hoje, e lhe digo as coisas que disse, são elas que me movem. frequento alguns lugares por sua causa e sem você eles até perdem a graça. eu gosto também de te olhar de longe, ver os outros te paparicando. não tenho ciúmes. sei como és e o quão bem esses momentos fazem para a sua vaidade. acontece que para mim você é só você. que lhe vejo, e só gosto de lhe ver, quando você não tem um sorriso pronto, quando sua roupa não combina, quando a sua cara é mal dormida e seu cabelo não sabe o cocar que pesa. gosto de lhe ver com vergonha, cansado e suado. gosto de lhe ver sentado, no corredor, esperando algo que nem você sabe. gosto de lhe ver comum, assim estrangeiro, sem-teto, tentando cavar moradia em corações navegantes. gosto de lhe ver no samba, mas não com todos os pares. gosto quando dança com quem sabe dançar. gosto quando dedida sua atenção as pessoas certas e não as que estão de passagem. gosto de ti. quando você me olha, como olhou hoje, eu duvido da morte, do texto, da rubrica e da ribalta. eu duvido da arte, do que fazemos com ela, do sexo com proteção, da maconha e do terror. eu duvido do não lugar, das minhas próprias convicções, eu duvido de mim e, principalmente, do que sinto por você. poucas vezes eu tive a chance de preservar um sentimento desta forma, em segredo. e por isso também duvido. duvido do formato quadrado ou retangular que a maioria das pessoas destina a imagem de um cofre. duvido dos chaveiros e chaves. duvido das senhas, das digitais e da cartela do bingo comprada. eu te amo assim... pelas beiradas. faço da sua imagem loucura e penso nos filhos que nunca teremos, na casa de campo que eu nunca desejei e nos shows que nunca pensei em estar. penso no capim e do quanto você gosta do mato. eu detesto. penso em tudo. penso, sobretudo, no resto.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Apontamentos sobre o não lugar:
O não lugar é o meio, o entre, o encontro de linhas múltiplas que seguem para múltiplos caminhos. É a compreensão física do conceito de rizoma. Anular-se não é o caminho. Na verdade, é preciso encontrar o espaço do estar que já é, por si só, um não lugar. Ou seja, encontrar o espaço da abertura cíclica receptiva à afetação total. O não lugar não é estado, mas presença. Presente para poder se afetar de forma positiva ou negativa. A afetação pode tanto estar banhada de mistério como de luz, por exemplo. Possíveis ilustrações para o não lugar, de acordo com a mini defesa aqui elaborada, assemelhan-se a imagens de teias de aranha, mapas de linhas de metrô ou até mesmo ao processo de crescimento das bananeiras. O não lugar é o ponto de partida que não possui origem nem destino previamente definidos. Portanto, pode o não lugar ser também espaço para o exercício das propostas intuitivas, da reação direta a uma ação que não foi pensanda para gerar tal consequência. O não lugar é o ponto onde nossas trajetórias cotidianas se encontram sem nos darmos conta. É o esbarrão causado pelo pouso do pombo, que derrubou o sorvete da criança, que fechou o sinal, que esqueceu as chaves em casa, que pegou o ônibus errado, que sobrou dinheiro, manifestando dúvida. É a guimba de cigarro que não foi apagada, guirlanda de Natal pendurada, sete velhas sentadas enquanto, no Chile, tudo se movia. O não lugar é o cruzar de nossas linhas, todos os abraços fora de hora, todos os embaraços, amassos e gaiolas. O não lugar é um palpite a qualquer momento, a força do tempo, o "meu corpo atravessado". O não lugar é a sala de ensaio, a tentiva seguida da falha, o suor fruto da persistência que almeja antingir a suspensão através da prontidão. O não lugar é o lugar onde as identidades se liquefazem, seu nome já não lhe é próprio e pouco me importa a sua idade. Sua altura é arquitetura, seu jeito de andar - tempo/rítmo, seus gestos - imagens que procuro compreender pela repetição. Decupagem. Seu cansaço, superação. O não lugar é início do limite, o pico do caos, depois de lá onde "Judas perdeu as botas" e, por tudo isso, calmo. É também o hostórico de seu corpo, os movimentos que é capaz de realizar e perceber. O não lugar é o caminho que no meio tinha uma pedra, que no meio dela, tinha outra pedra, que no meio dela, uma outra pedra menor, que no meio dela, uma uma outra pedra menorzinha, que no meio dela, uma uma uma outra pedra nanica, que no meio dela,uma uma uma uma outra pedra quase invisível, que no meio dela, uma uma uma uma uma outra cisco de pedra, que no meio dela, uma uma uma uma uma uma outra possibilidade.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Rapidinho para não atrapalhar ninguém.
Só eu sei deste sentimento. Ninguém mais. Ele dorme e acorda comigo todos os dias. Cada vez que lhe vejo ele aumenta. Mas não sei se cresce. Aumenta porque se renova. Reestreia. Mas não sei se muda de tamanho. Vou dançando assim, sem par, porque descobri que desta forma me faço feliz. Pelo menos mantenho o meu corpo em movimento. As coisas nuncam foram simples do pescoço para baixo. Seus olhos, sorriso e nuca. Quantas músicas falam de nossa paixão? Eu me perco só em pensar que, por vezes, denuncio-me em pequenos gestos, olhares. Faz tempo que perdi a chave de meu compartimento. Faz tempo. E agora, são outras casas, outros povos, outras companias. E agora é mais você e seu jeito peculiar de me olhar nos olhos. Sabe que nunca sei se me leva a sério? Penso que não, mas também penso que sim. Eu gosto de pensar. Mantém o corpo em movimento. Faz tempo. "Há muitos anos mandei o meu amado embora e, desde então, morri".
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