domingo, 3 de agosto de 2008

Domingo

Prometi a mim mesmo que iria tentar não voltar neste tema, mas é que tudo se relaciona a este fator e faz as coisas parecerem mais complicadas do que são. Aliás, venho percebendo bastante isso. Temos todos uma certa tendência a exagerar as coisas e colacá-las todas em última instância, no fundo escodendo o que verdadeiramente nos tira de nosso caminho. O que esta mais complicado agora é saber que caminho devo e quero seguir. Ou qual deles quero, mas não devo e todo o tipo de combinação que essas duas palavras possam juntas fazer. Estou me sentindo em uma sinuca de bico e não gosto nada nada de me sentir assim. Mas é preciso. Remoer está ficando chato, pesado e cansativo. Sinto meu corpo mais tenso e não consigo parar de pensar em dançar. A resposta da bolsa pro ballet sai essa semana e eu estou muito ancioso. Se não der, não deu. Mas confesso que ainda tenho uma certa aflição infantil que me faz odiar essas barreiras colocadas em nossa vida em razão do dinheiro. Ou melhor, da falta dele. Conversei bastante esses últimas dias com alguns amigos e vejo que estamos criando mais do relações intensas, mas sim dependências. Não sei da parte de quem e isso também não teria a menor graça definir. Eu gosto deste tipo de relação, mas ao mesmo tempo também as temo. Temo pelo simples fato de ter me construido um alguém que se livra das coisas de forma rápida. Este tipo de coisa, eu quero dizer. É necessário que todos saibam e se adequem a idéia de que os seres humanos precisam e DEVEM partir. De que a nossa casa é o mundo e de que as coisas não são infinitas. Quando chegar a sua hora, por favor, não faça lenga lenga. Faça sim, uma bela de uma despedida e vá. Vá respirar e viver em novos ares, novas poesias e bolsas. Vá colecionar novas manias e pessoas. Por favor, não faça da partida uma tempestade em vestido tubinho preto. Não deixe que as suas inquietações façam parte da preocupação das pessoas que estão a sua volta. Elabora uma mala exata: roupas, se for o caso, sentimentos, se for o caso, virtudes, se for o caso e coragem (é sempre o caso) e vá. É preciso compreender marinheiro e afirmo-lhe que é isto que venho tentando fazer desde nosso último encontro. Compreender que para mim você partiu e mesmo estando presente sempre é preciso pensar assim. É preciso mas não é quisto e está aí a dificuldade de escolha que me coloco perante aos caminhos pensados e repensados. A mente conclui, o meu coração não. E o meu corpo não entende. Não quer mais saber de outro e só de ti. Ainda está em estado de marisia dentro da própria arte que o mesmo produz. Ele não quer saber de desculpas nem muito menos de solidão. Ele sonha e me levanta da cama diversar vezes, pedindo-me que escreva, que produza, que marque cada vez mais esta saudade que ele insiste em sentir. A danã hoje é sim um projeto, um investimento que faço e espero colher frutos dele no futuro. Mas acho que no fundo, bem lá pertinho de onde a gente guarda a verdade do que somos, ela é também razão de procura por um espaço que se perdeu. Por um espaço que não é mais meu. Esperar é uma arte e eu aprendi isso com o meu neguinho. Ele sempre lá, eu sempre aqui. As dores são sempre dores e esperar é uma arte. Uma arte que deve ser encarada como ofício assim como houve na vinda dos artistas da França para cá na época que ainda funcionávamos na forma administrativa de Império. Voltei a ler Clarice e ainda não sei o que isso significa. Acho que foi o fato da Carolina ter lido a Lori e ficado muito impressionada e apaixonada. Não sei, talvez os comentários dela tenham feito com que eu perdesse um pouco do ódio que guardo de Clarice e voltasse a ter coragem de abrir mais as páginas de seus livros. Este ódio é claro que se chama ódio porque é amor. Se fosse ódio mesmo teria outro nome, talvez mágoa. Sei que não me expresso bem com as palavras e também não me esforço para. O meu dom sempre foi o da oratória e estou bem com ele. Sei também que quando sento em frente ao meu computador, como estou agora, começo a escrever um rastro de cem mil besteiras para camuflar o que nem eu mesmo tenho coragem de ver transcrito nesta folha de papel virtual. Aliás, apesar de ter este espaço gosto muito mais de escrever no papel. Acho mais sincero, mais meu, mais verdadeiro. A dança também tem essas coisa do dentro e fora. Dessa constante ir e vir que estamos sempre vivendo. Deste ligar o dentro com o fora e o fora com o dentro. É uma tarefa árdua, mas não podemos desistir. Conversei muito isso com a Simone ontem e na conversa eu pude ir descobrindo minhas conclusões que ainda não havia conseguido colocar em palavras. Escolhi o ballet para depois desconstruir. Escolhi o clássico para aprender a base e depois crescer. Escolhi o ballet pela leveza que o mesmo passa aos expectadores quando assistido. Mas esta sensação é só visual, pois por dentro os bailarinos estão morrendo de dor, contorcendo membros e esforçando-se ao máximo para manter-se na posição correta, internamente e visualmente correta. É disso que preciso. Tudo que faço hoje é agressivo, violento, vem de um teatro cruel que quer se manifestar como inquietante, como vávulda de escape para meus problemas e coisas mais. Mas não é isso que sou. Não é isso que quero. Dentro de mim a uma pessoa doce, leve, alva e é isso que quero mostrar. Quero falar sobre o pesar da vida de forma leve, tendo meus atores completamente mortos por dentro, feito migalhas, implorando com o olhar a atenção da platéia, a piedade e a compaixão. Quero ser por fora e pesado por dentro. Quero saber mostrar uma tristeza com os olhos dizendo que dentro há mais tristezas deste tipo. Se isso ocorrer, a verdade estará lá. Terei um teatro realista, mas não em conceito e sim em vida. Um teatro realista porque ele se faz sozinho. Se sustenta por seu próprio sofrimento e dor, mas é também ele quem controla o que pode e não pode ser transmitido. O que deve ficar nos bastidores e o que deve invadir o público. É dessa forma que vejo a dança e, no momento, o ballet. Pode ser que não seja nada disso, pois nunca dei um passo neste rítmo que estou me propondo a aprender. Mas eu não ligo, pois este é o meu imaginário e as minhas crianções vão partir dele e preciso respeitá-lo. Continuo ainda sentindo saudade das coisas que não vivi marinheiro. Estou precisando dar um passeio e lhe digo que essas férias pouco seriram. Tive poucas alegrias e uma delas foi SP, o que já era de se esperar. Tenho fé só não sei em que, que um dias as coisas mudam. Você muda de idéia e vem prá cá. Vem pra gente navegar junto, pra gente olhar o mar junto e brincar de saber aonde é que o outro tá olhando no horizonte. Vem pra gente falar dos antípodas e também falar da gente. "Vem, morena ouvir comigo essa cantiga, sair por essa vida aventureira, tanta toada eu trago na viola, pra ver você mais feliz...". Vem pra gente cantar a arte de dizer te amo. Pra gente molher o corpo e reclamar da água fria. Vem pra gente ficar horas e horas olhando um pra cara do outro e no final morrer de dar risada. Vem pra gente fazer poesia junto. Vem pra gente brincar de ir a padaria e sustentar família. Vem olhar pra minha cara com cão abandonado e me pedir café e cigarro. Vem pra gente derreter garrafas e mais uma vez ter uma parede assim dessas. Assim dessas não igual em sentimento mais da mesma estética e sensação de casa que a outra me trazia. Vem ouvir suas músicas estrangeiras que não entendo um só verso, mas me divirto com elas. Vem pintar o cabelo de mil e uma cores. Vem beber suco de cajú e comer pizza da loja vinte e quatro horas. Vem misturar tudo em mim e fazer de mim eterno fazer. Ah! marinheiro são tantos os desejos, oriundos de tantos lados e pessoas que eu nem sei mais por quem clamo ou espero. Eu só sei demais. E por isso digo que não sei. Mas sei. Esperar é uma arte e eu ainda te espero.

Um comentário:

Márcia Abreu disse...

Uaaaaaaaaaaaaaaaah!
Acabei de acordar e estou com muita preguiça de ler isso tudo, tá.
Faz um resumo?! rssssss