quinta-feira, 10 de abril de 2008

O menino. A menin. A a. E

Fazia tempo que o tempo não ficava assim por aqui. Ela estranhou e eu também. Vegetais costumam ser bastante sensíveis a quebras de temperatura e outras mudanças deste tipo. Leu no jornal que as coisas só tendem a piorar. Se atualizou sobre a nova Ética, a dos apaixonados, que insistem em dar pareceres individuias onde só existe uma postura cabível: ou se faz pelo coletivo ou não se faz. Pensou em cortar os cabelos, mas logo se alembrou que ainda não havia terminado de cumprir o seu último contrato capilar consigo mesmo. Andou pelas ruas, esqueceu de perguntar o valor do ingresso para o show do dia quinze... Durmiu tarde, acordou cedo. Gripou, o caitado. Foi chamado atenção. Mais modos, roupas também tem orientação. Mas que saco, ora essa. As coisas são assim, disse mamãe a mim. São assim. Mauro deito-se e não viu o sol nascer. Já Lúcia, ficara de pé, anciosa para ver os primeiros raios de sol adentrarem a sala e fazerem aquela linda sombra no chão através dos cantinhos da persiana. Em casa de vovó, janela sempre com persiana. Não entende cortinas modernas e acha as de cano reto um desperdício de espaço e também um pouco modermo demais. Gosta do que é velho, mas de forma alguma se declara antiquada. Sabe viver. Antes fazia sua própria padaria. Hoje, tem quem faça por ela. Não por gosto, mas por necessidade e carinho. O menino, a menina e a avó. Vestiu-se, combinando cada item de sua idumentária com o seu descombinar habitual. Uma última piscadela para o espelho antes de deixar o apartamento, segurança. A água, o cigarro, o óculos, a bolsa nova, o sapato um grama, o dinheiro, o cartão que dá mais dinheiro, a identidade, o comprovante de estudante, o caderno, as canetas, tudo junto assim meio torto meio duro meio mole. Ele foi.

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