terça-feira, 18 de agosto de 2009

Para você, Jacira.

é que agora vejo você ao meu lado e perto de mim e longe de mim e amigo de mim como se, de fato, em mim, dentro de mim, você estivesse. agora penso que somos de verdade, de dar as mãos, tocar segredos e sagrados. penso que passeio com você pela Augusta vendo todas as jaciras passarem com seus pêlos e peitos definidos. penso que temos sim um jardim e que está cada vez mais doloroso ver os girassóis não resistirem a esses monstrinhos. tenho a certeza de que fui eu quem guardou suas coisas quando perdeste o apartamento em são paulo, como também sei que lhe escrevi durante todos os meses que estiveste fora do país. comprei todos os jornais onde palavras suas me cantavam belezas pela manhã fria. fui eu quem saiu de madrugada a lhe procurar pelas casas noturnas, fui eu quem viu você com outro e não se importou, pois sabia que nele, você também me amava. talvez, tenha sido eu a pessoa que lhe enviou os botões de rosa que plantaste durante os seus últimos dias de vida. fui eu quem dividiu o café com você e também com a jack, com o gui, com a lygia, com a magli, com todo o mundo. fui eu quem leu as primeiras páginas de seu romance que ficou inacabado. na estréia de sapatinhos, eu estava lá. sentado. foi por amor a ti que aceitei sua doença e me fiz positiva quando pensava ser tudo isso um acontecimento de grande negatividade. eu estava lá cantando com cazuza no momento em que ele lhe dedicou aquela música. em paris, quando a grana estava curta e o frio enorme fui eu quem lhe enviou os envelopes com pequenas quantias em dinheiro e fotos de lojas que, no momento, liquidavam seus cobertores. ao seu lado nos meios de transporte: ônibus, trem, avião, carro, júpiter, saturno. eu jaciiiiiiiiiiiiiiiiiiira que só ela, como você, sempre de salto agulha, mini saia de couro, preta, apertada, esperando o amor chegar. fui eu quem disse aos jovens para lhe idolatrar. eu fiz tantas coisas por você. quando ana se tacou da janela eu não fui segurá-la. preferi estar aí, ao seu lado. comprei lenço para as lágrimas, caetano e adriana para o pós-morte. quando tacaste fogo no apartamente, foi meu coração que quase se derreteu todo no ato de pensar que já havia chegado a hora de sua partida. no menino deus, interior, eu também dizia as pessoas que lhe não lhe tratassem mal, que fizessem certo esforço para compreender as almas solitárias. eu fiz tanta coisa por você e, hoje, não sabes o quanto andas fazendo por mim. espero que estas palavras, de alguma forma, te alcancem e espero também que você possa sorrir ao entrar em contato com elas. espero que estejas confortável, perfumado, cheio de livros e discos. espero que um dia, mesmo depois de feito tanto, eu posso retribuir tudo o que vem fazendo por mim. com amor.

domingo, 16 de agosto de 2009